Estamos vivendo a beira de um precipício chamado Planeta Terra, onde a vida humana perdeu a importância, o sentido, o valor e principalmente, a dignidade. Porém, como nos firmar na incerteza, na aparência, na brevidade e fragilidade de um viver humano sem humanidade? Presenciamos cenas dantescas causadas pelo ódio, como assassinatos por banalidades em plena luz do dia, por gestos obscenos, por exemplo, de motoristas enlouquecidos que se desafiam, matam e morrem como em uma arena romana, porém, hoje chamada de trânsito. Ouvimos palavras acusatórias, mentirosas recheadas de veneno, desferidas por pacatos cidadãos, uns contra os outros, como se todos fossem donos da verdade absoluta, defendendo sua visão política, esportiva, religiosa e social como bestas feras. A nossa verdade é, apenas, quando muito, a metade do que pensamos, acreditamos e expressamos. Pois, sempre haverá o outro lado. Uma guerra de idéias e ideais, de certo e errado, de conceito e preconceito, de amor e ódio, de mentiras e falsas verdades, pois a verdade está se diluindo, desintegrando-se. Até mesmo entre aqueles que sempre juraram honrá-la, defendê-la e cumpri-la a escondem sob uma capa. O caos está formado. O salve-se quem puder está ficando evidente. O quem não é por nós é contra nós está dominante. Estamos nos tornando seres irracionais onde um pisão no pé pode gerar uma guerra. Aliás, a guerra urbana parece já ter sido deflagrada. A batalha entre professores e alunos, patrões e empregados, ricos e pobres, brancos e negros desencadeiam uma volúpia social sem limites onde a vida é o  que menos importa. E, pasmem, a discórdia entre pais e filhos, o desentendimento conjugal, a desobediência infantil, a falta de disciplina e respeito, surgido dos  raríssimos diálogos familiares, que mais confudem do que explicam uma vida familiar saudável. Mas, o que é saudável? O que é puro? Os alimentos? Nosso viver? Nossa vontade? Está evidente que na sociedade pós moderna, os valores se inverteram. A saúde está matando, o doutor Google só prescreve placebos, água não sacia a sede, morremos de fome diante de um banquete, o que era exceção virou regra, o normal, em  algo obsoleto e desacreditado, o que era vergonhoso mencionar, hoje tem que ser aceito e respeitado. Flutuamos entre o moral e o imoral, servimo-nos do egoísmo para saciar nossa vaidade, corrompemos nossa mente para aplacar nossa consciência, coamos um mosquito enquanto engolimos um camelo. O ser ou não ser, não é mais a questão. A questão agora é parecer. O proibido proibir deu voz a certos costumes e atitudes onde a imoralidade sobressai como um abutre desfigurando e consumindo um cadáver. Com esse pano de fundo, queremos exigir justiça, sendo injustos. Esperamos ser respeitados pela nossa falta de respeito, ouvir a verdade expressando mentiras, queremos ser considerados honestos praticando falcatruas, subornando e quebrando regras com o nosso "jeitinho". Estamos valorizando coisas e descartando pessoas, nos aproximando cada vez mais pelas redes sociais e nos afastando fisicamente. Falamos muito, porém não ouvimos os gritos silenciosos dos filhos, sorrindo sem alegrar-nos, vivemos em um mundo livre sendo prisioneiros de nós mesmos. S.O.S humanidade. Bendizemos a Deus e amaldiçoamos nossos semelhantes. Queremos fé sem problemas, esperança sem paciência, amor sem coração, emoção sem sentimento, paz através de guerra, evitamos as lágrimas provocando o choro. Na complexidade do meu eu desconheço a simplicidade do meu Deus. Sendo Ele infinito tornou-se finito, sendo Deus fez-se homem, incompreendido, compreendeu, enquanto viveu, amou-nos, morto, salvou-nos, ressurreto, justificou-nos. Agora posso ser humano, compreender o incompreensível, chorar com os que choram, amar os inimigos, nada ter, mas possuir tudo, ser pobre, porém, enriquecer a muitos. Posso deixar o virtual e viver a realidade, negar a mim mesmo para aceitar meu semelhante, na humildade extrair força, do sonho fazer minha meta, pela solidariedade nortear minha vida e por ela, escrever minha história. Salve nossas almas.

Zeca Moreira
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