Coisas estranhas são as estradas por onde caminho.
Velejo a pé os quilômetros qual andarilho solitário
Sem conhecer das veredas os pântanos filosóficos
Que me abstraem do pensamento, ideias inexoráveis.
Não vislumbro esquinas onde possa erguer um altar,
Que seja uma nave em que minha consciência ore
Uma oração em que nada peça nem agradeça, um
Patamar para reflexão sóbria sobre os vexames da vida.
 
É incompreensível o vácuo que se instala diante de mim.
Um deserto onde minha alma loquaz busque o destino
Embora para quem caminhe a ermo não exista a estação
Nem o eco para responder do silêncio, o gaguejar silábico,
Sem fonética e sem ritmo, apenas o desejo de escutar a si.
E uma aparente loucura se instala nas vertentes dum íntimo
Sem perspectivas de soletrar do alfabeto, a utopia de ser.
Imantam-se aí os adereços frenéticos, sementes do estar.
 
E leva-me o tempo a peregrinar de forma aleatória. Indômito!
Sem saciar a fome que me assola a insistência de prosseguir,
Vem-me a sede que copula com os ventos a idoneidade de ver.
E um frio avassalador inunda meu espírito inquieto, sem tato.
Em cada passo, uma centelha apagada; em cada gesto, solidão.
Um espectro alhures às circunstâncias de uma insensibilidade
Aliciada por um metafísico quântico, sem física para o cálculo
Das adversidades disformes de uma existência assaz quadrática.
 
E chega o calor metafórico que deixa o corpo a evacuar chamas.
Imensas labaredas são lançadas ao ar rarefeito das inverdades,
Uma chusma de sentimentos penetra nos vales dos indivíduos
E eu, como criatura, permito-me queimar hipocrisias indecentes
Que me causam no âmago um festival de raciocínios autóctones...
Então desperta-me a inconsciência adormecida, plena do viver
Nos campos oníricos a realização dos devaneios mais urgentes.
E os sonhos se materializam, compactuam com ilhas e paraísos!
 
 

 
DE  Ivan de Oliveira Melo

Ivan de Oliveira Melo
© Todos os direitos reservados