Ora, faça-me uma crônica!
Ainda me lembro do primeiro dia que ela apareceu no Barão. Pequena, risonha, sentava-se entre as primeiras fileiras, onde podia enxergar nitidamente o quadro, que agora é branco. Tornava as aulas de História e Ensino Religioso um grande debate. Tudo era interessante quando ela estava por perto. Não era aluna de aceitar qualquer coisa com facilidade, questionava, investigava, contribuía com o saber que já possuía na bagagem.
Qualquer acontecimento era motivo de risos, poucas vezes esteve tão séria. Sua risada contagiava, encantava, metamorfoseava o ambiente cansativo da sala de aula numa grande aventura. E não existia aventura melhor, do que partilhar sua felicidade.
E ela que ainda tão tenra teve motivos para ser triste... Eu sabia, mas fingia não saber, para não entristecê-la. Como conseguiu superar tamanha perda e ser feliz e nos ensinar a sorrir, quando o primeiro amor, o amor verdadeiro e genuíno lhe foi subtraído?
Então descobri o motivo de sua estabilidade emocional. Pertencia ao grupo dos fortes, daqueles que transformavam a perda em lição de vida. Veio com a missão de nos ensinar o caminho da resignação, da soberana vontade divina.
Ela gostava dos meus textos e me pedia uma crônica:
- Professora, escreve uma crônica só para mim.
- Um dia eu escrevo. Deixe-me vir à inspiração.
Faz tanto tempo que ela acabou o segundo grau, já tem até profissão... Que linda! Escolheu ajudar o próximo na dor, no momento mais vulnerável, quando prostrado no hospital, sentindo medo, abandono, tristeza... Instante onde necessita ser reanimado e lutar pela vida. E ela que sempre transbordou vida e esperança está pronta para servir com o dom que recebeu do Mestre. Ele que lavou os pés dos discípulos.
O tempo passou... E como passou, mas o compromisso eu não esqueço. Temos algo pendente.
E Quando me vê pela rua, esboça aquele sorriso “relembrador”:
- Poxa! Você não me fez uma crônica!
Meu Deus, que inspiração ainda é preciso para pessoa tão bela?
E hoje, o Altíssimo alforriou os meus dedos, destravou minha mente e me fez pensar o quanto Mary Moreira é flor e rocha. Singela e forte. Pequena e grande. Mary de Maria, que tem missão importante no mundo, de carregar a dor. Maria ao ver seu filho na cruz sofrendo pela humanidade foi exemplo de submissão voluntária.
Hoje ela empresta o seu nome a todas as Marys, Maras e Marias, que como ela, perdeu alguém em sacrifício, mas que veio com a missão de doar amor.
Querida Aluna, receba essa crônica atrasada, mas com todo o amor e carinho.
Você sempre será inesquecível. Quando penso em você meu coração transborda de alegria e contentamento.
Agradeço a Deus Pela sua vida! Por ter tido o privilégio de conhecer alguém com a alma tão preciosa e com o espírito tão puro!
Um grande beijo dessa professora que sempre te amou.
Selma Nardacci
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