Preciso do tempo…
Devagar, a contento,
levando-me a passo lento
por cantos que nunca vi.
Vem também de encontro ao vento
e num alento, comigo se deixar levar.
Permitir-se atrasar,
extrapolar limites,
parar os pêndulos, calar as horas,
deixar-me passar…
Tempo bendito, preciso,
ainda que em mar revolto
dar-me a mão pra atravessar,
atracar em qualquer porto,
acenar ao que se vai,
e a quem queira, abraçar.
Barco torto, sem pressa de chegar ao fim,
Em cada cais vivermos um pouco mais,
sem o temor do calendário,
surdo a regras e sermões,
unindo-se a mim…
Cavalheiro lendário
que ousou seu senhor dissuadir,
espera um pouco mais…
Quero dar vida ao imaginário,
imagens ao que compor,
cobrar o que não vivi,
devolver o que vi demais.
E após vivermos tantas marés
cumpra seu destino, pé ante pé,
sem acelerar as horas…
Deixe que se vão embora,
siga no controle dos dias
conduzindo à revelia
minutos cronometrados
apressados e resolutos.
Faça cada minuto
durar cada vez mais.
(Carmen Lúcia)
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