O poeta não...

O poeta sabe que não pode parar…
Nada o obriga a prosseguir
a não ser a inquietude louca
ou o frenesi indomável
de combinar palavras
colhidas e equilibradas 
na corda bamba imaginária
de um circo dentro de si
sem sombrinhas ou proteção,
palavras à vela, despojo que revela
a verdade que pode ser sua
e se coloca nua
exposta numa janela.


Não, o poeta não pode parar…
Tem por sina dizer o que obstina,
tem por norte não temer a morte
visto que da alma lança mão,
alicerce da inspiração,
substrato da mente, semente
que entumece e cresce 
enquanto o resto permanece em vão.

Sem poeta é mundo sem visão,
é olhar por trás da lente que embaça,
não perceber o pranto, o riso, a esperança,
o sonho escondido
por detrás da vidraça
dançando com versos
ao som da inspiração.
É ver a insensibilidade
virar coração…
Viver num mundo triste
onde a realidade persiste
em ser apenas o que é.

(Carmen Lúcia)