Chegada


Chegaste…


num dia qualquer


de uma certa estação…


Sem aviso, sequer,


nenhuma empolgação,


como quem chega sem querer,


dissimulando o querer ficar…


Como um bem maior, um privilégio,


presença indispensável, sortilégio,


burlando o fuso horário,


mudando o calendário,


o itinerário, a hora , o fadário,


senhor absoluto do tempo.




Chegaste…


Surpreendendo a manhã


ao entregar o cetro para a tarde,


 revelando sombras em vertical


de pessoas vagando sob o sol,


rito costumeiro e pontual


anunciando o meio-dia,


do dia em que escolheste pra chegar.


Entremeio de manhã e tarde,


 das entrelinhas para o baluarte,


da surdina ao gesto de alarde,


na expectativa  de espreitar  a beleza,


roubar tons em gradação,


cores em formação


no momento exato do impacto


causado pelo sol tingindo o céu


e logo se perder  no horizonte.




Foste…


Junto com as cores do arrebol


morrer também atrás dos montes,


renascer, talvez, um novo sol


a irromper no amanhã


com a manhã de cada dia.




(Carmen Lúcia)