Trinta dias
Meu amor, daqui a trinta dias irei embora.
Seria  uma partida pressentida ou um consenso mudo de que , na pior das hipóteses, um de nós dois teria que tomar a iniciativa ? 
Não, a minha coragem insana nada mais é do que um pedido de socorro.
Não me deixe ir ! 
Socorra-me no último instante em um abraço silencioso.
As palavras tem o poder de corromper a singularidade dos sentimentos que não exigem explicação.
Quase sempre é assim.
Meu aviso prévio não é uma expressão desesperada de chantagem emocional , aliás você bem sabe que não gosto de alarde. Aqui, na encruzilhada,  não há outras possibilidades de escolha. Os caminhos me levariam a um só lugar, nada mais .
Disse sim a você  e diria um milhão de outras vezes , até em outras vidas , se acreditasse nelas.
Sim, pra sempre e um dia a mais por favor!
Essas vinte e quatro horas adicionais poderiam  impedir a minha viagem?
 A esperança grita em mim.
E grito porque também dói .
Mas não olhe para trás, isso não vai me trazer de volta.
 Dê um trago no cigarro e , remotamente,  o relance das nossas noites de amor virão à tona.
Lembra com delicadeza das minhas manhas e artimanhas  para conquistar você,  do riso fácil e da beleza dos sentimentos.
 Deixe a leveza das lembranças inebriarem as suas noites solitárias até que fique uma saudade mansa como o único resquício  das dores que se esvaem com o passar do tempo.
 Apenas isso.
Saia e comemore a vida, que é um sopro breve.
Conheça outras mulheres e não sinta nelas o meu perfume , abstenha-se das comparações .
Recomece assim como eu!
 Reconstrua-se com a alegria  das coisas mais simples.
Fomos felizes  é o que importa...
 Um tanto e muito.
Demasiadamente.
Que  você o seja por todo sempre, amor meu.

Luciana Araujo
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