O tráfego está livre. Folhas de outono no chão!
Há um friozinho que faz arrepiar o corpo. Bocejo.
O pensamento está quieto. Não arrisco refletir.
O vento sopra, as árvores balouçam. Céu cinzento!
Murchos estão os astros. Não piscam. Nem iluminam.
A quietude traz um silêncio que azucrina os tímpanos.
A noite desfalece perante a angústia que grita a sós.
Até a luz dos olhos ameaça trancafiar-se. Agonia!
A boca está seca. Os lábios ressequidos. A voz rouca.
Súbito pesadas gotas d’água despencam das nuvens.
Muda o tempo. O calor sufoca. O suor escorre. Tensão!
Chuva e temperatura quente... É a alma que se bronzeia!
O sono despediu-se. Saiu a passear. A vigíla é tenebrosa.
Há um certo movimento do corpo que rola aqui e acolá
Sobre um catre que é confidente das sensações urdidas.
Porém na tela da imaginação não há aclive, nem declive.
Tudo está oco como se oca fosse a amargura. Tosse.
Ambiente tétrico. As luzes se apagam. Um certo terror...
Leve pãnico se faz sentir. A solidão é um apêndice etéreo.
Intermitente, a tempestade se prenuncia. Ligeira claridade.
São relâmpagos que boicotam a excelsa maciez da noite.
Intensa trovoada povoa os alicerces da madrugada unguenta.
Mortalhas rasgam os espaços e levam longe os segredos.
Circuitos se escutam além das portas. São os raios úmidos!
Grande vontade de gritar. Vociferar diante do tempo surdo.
Horas tediosas assassinam saudades e respiram melancolia.
Sonhos sonâmbulos se apoderam de receios pálidos e tímidos.
Sede e fome são fotografias que registram o âmago aflito.
O coração não pulsa... Ribomba e deixa a aorta atordoada.
De repente tudo se transforma. Sente-se o viço do orvalho!
É a alvorada que chega cheia de beleza e indizível esplendor.
DE Ivan de Oliveira Melo
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