Lembro-me do dia
em que me perguntaste se te amava
e eu disse que sim
sem saber muito bem o que isso significava.
 
Como poderia saber
se nunca estive ausente de ti?
 
Se nunca tive uma noite de insónia,
uma dor dentes,
um perder o autocarro
afastada de ti?
 
Se nunca tive um entardecer
a ver um pôr-do-sol sobre o mar
longe de ti?
 
Se nunca fui a um baile,
ao cinema, beber um copo,
sentir um hálito que não fosse o teu?
 
Como poderia saber se te amo
se não me deste espaço
para ir à janela espreitar o mundo?
 
Como poderia saber se te amava,
se me sentavas virada à parede
e me fazias sentir
que esse era o lugar de mulher séria?
 
Como poderia saber…
se com o teu olhar
vigiavas o meu olhar
e me fazias sentir culpada
e baixar os olhos
ao olhar sensual
de outros homens sobre mim?
 
Como poderia saber…
se apenas em pensamento
olhei para outro homem
como se fosse o meu príncipe encantado?
 
Perguntaste-me um dia se te amava
e eu disse que sim
sem saber muito bem o que isso significava.
 
Já lá vai tanto tempo
que quase me esqueci de mim!
 
Agora…
abri a janela e espreitei o mundo;
toquei as asas das gaivotas
e respirei a liberdade do mar,
desci à praia e lancei os braços
ao encontro do pôr-do-sol
e senti o hálito sensual
dum fim de tarde de primavera.
 
Agora…
sorrio ao olhar malandro
dos homens sobre mim
… e não me sinto culpada;
 
Sento-me à mesa
de frente para os olhos do salão
olho nos olhos
os homens que têm fome
e vejo a fome que não tenho de ti
e sinto que perdi
anos da minha vida.
 
Foi há tanto tempo
tanto, tanto…
que quase me esqueci
que existe amor para além de ti.
 
Agora…
não me perguntes se te amo
porque não quero gastar
mais um dia da tua vida.
 
Adeus!

santos silva
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