Adágio do Silêncio

Se, um dia, alguém te disser
Que este amor é eterno
Deves logo desdizer
Que não foi mais que inferno.
 
Diz que nunca houve amor,
Não dormimos em alcova,
Jamais trocámos suor
ou vimos luas, cheia e nova.
 
Foste, nos meus olhos e alma,
Um adágio silencioso,
Um abjecto belicoso,
sem ternura, paz ou calma.
 
Foste o leito podre de água,
De coração estagnado,
O vazio, o erro, a mágoa,
O nada deste pecado.

Não serás jamais viola
Que tange nas cordas, vibrante,
Sussurros e gritos de amante -
Apenas ais por esmola.
 
Este adágio não existe,
Nem sequer é nasciturno,
Pobre acto taciturno,
Sangue sujo que esvaíste.
 
No silêncio do adágio,
Tentei amar-te, por plágio,
Mas em pranto irrompi,
Perante tal monstro, fugi… 

Lisboa

Triste Poeta
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