A música que ouço nenhum instrumento toca;

são sonhos que se chocam e riem dos pesadelos,

repentinamente se ajoelham e evocam

santos vivos e mortos,

guardados nos espelhos... 

 

A pele que toco nenhuma criação a fez,

limpa e sadia, alva como o nascimento do universo;

afago com os nós dos dedos essa tez,

tão longe estou e tão perto,

como quando nasci,

da primeira vez...

 

Quieto num canto espio a labuta dos anjos,

semeiam, limpam, colhem, espargem;

algo se salva no meio de tantos,

um grão túmido numa vagem...

 

A vida que vivo nenhuma outra sabe ou saberá;

vim do imenso oceano do antigamente, em forma de luz;

trago em mim oceanidades e as profundezas do único mar,

revestem os vaga-lumes do meu coração essa carne, essse capuz...

 

 

Prieto Moreno
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