Noturno
Ando espreitando vitrines,
Personificando o invisível,
Carrego a noite em meu peito e seu negrume na ponta dos pés.
Um sorriso letreiro espanta desavisados e a secura das palavras
garante meu sossego.
Já fui de sonhos imensuráveis, de coragem inabalável, de ingenuidade genuína.
E nos olhos, fogo e verdade cristalina.
Hoje, sou apenas sabedoria e dor nos ossos, calmaria da brisa morna noturna.
Fogueira extinguida em brasa como estrelas no firmamento.
O coração já cansado viveu as aventuras idílicas,
Hoje nem sofre ou deleita-se, apenas segue tamborilando.
Mas não suponha que sou vazio, porque quando ando noturno,
sou rio.
E navegam em mim áureos dias, e relembro e declamo lá por dentro poesias.
E eu te vejo na sombra das coisas, nas sobras dos sentimentos.

Pedro Marcos Antonelli
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