Sob trêmulas sombras ando,

como um verme desalmado.

Julgais-me um anjo nefando,

à mofa sou destinado!

Em meu mundo vive um bando

de colossos desvairados.

 

Ouço a voz de um rouco

e à noite ele me acompanha.

Disse-me ser um dos poucos,

que de mim não sente sanha.

E, afirma que me fez louco

porque a vida é mesmo estranha.

 

Muitas vezes, um tormento

a luz que me guia invade;

em veneta, no nevoento

universo dos covardes

eu choro qual um avarento

que não tem mais seu alarde.

 

Por minha abjeta loucura

ululo na madrugada...

Vejo um tonel de amargura

e Danaides condenadas.

Sou o pai que carpe a agrura:

- Oh! Minhas filhas humilhadas.

 

Quando volvem os instantes

do brumoso elo da vida,

das pureza dos infantes

às nódoas tão doloridas,

creio que nada é triufante

só o riso da despedida.

 

Sou rei, sou bravo, sou homem

todos tenho dentro em mim.

Essas vozes quando somem

reflorescem meus jardins;

a comida que eles comem,

renagarei até o fim.

 

Durmo nas calçadas frias

e o desvario me conduz;

sou afeito a rebeldias,

mas sou filho de Jesus.

No pesar de nossos dias

cada um tem sua cruz!

 

Poema escrito em 2002

 

 

Alexandre Campanhola
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