O que vagueia
Nos dias quentes
Procura por nada
E por nada contente
Suspira a cada passada
Uma anca lhe faz parar
Mas logo continua
Sempre a correr
Ele não sabe quem é
E também não se importa
Seu desmanche
Deslumbrante fé
Desse estranho errante
É de entender que vazio
Fie por visitante
O mar dos seus olhares
Tão conspícuos
Que ele não consegue
Disfarçar os vínculos
Com aquele outro coração
A sua oração é a mesma
Todas as noites
Ele pede tudo em alta voz
Ele canta as vezes
Mas não é bastante
Ele sonda os estranhos
Ele finda respostas
Que nunca virão
Mesmo já sabendo
Ele crê e segue
Fugindo de si mesmo
De quem lhe observou
E disse a si , tranquilo
Que a morte era melhor
E que o calor do viver
Da lugar ao escuro
Lugar de sorte
Caixão dos mundos
Antes mais fortes
Como ele agora
Que desaba e sem alma
Apodrece no fim
De maneira cresce
Dizendo assim
“ eu vivi
E fiz
Mas desfiz
O amor que tive
Pela donzela perdida
Desesperada
Ávida por alegria
E temor da lida
Que foi virando história
E agora mal concebida
Vira conto funesto
Duma luz perdida
No breu que lhe deu vida
Embrenhada nele
Se esqueceu
E aqui desceu.”
© Todos os direitos reservados