Eu a peguei inda pequena
abandonada na cena
do crime.
Suja e despenteada
a lavei e a sequei
e a cobri com coberta lavada
e a coloquei
na varanda
e lhe mostrei a cidade que pulsava
e ela riu - não sei de loucura -
e dormiu como todos dormem dentro da noite escura.
Acordei-a com café e manteiga e pão
e lhe dei roupas e a coloquei no chão
para que andasse em qualquer direção
e ela caiu aos meus pés
e lhe dei fé
e a ensinei a andar
e a ensinei a pular
e a ficar de como quem quer ser o que se é
e adolescente deu-me de presente
versos e poemas infanto-juvenis
e nunca disse eu nada
e ela já crescida perguntou-me da estrada
e eu apontei a direção
e ela lavou suas mãos
e pegou suas coisas e partiu
dando-me as costas
e hoje a reconheço em poemas malditos
e em textos absurdos e em latas de lixo
e mandou-me ela uma poesia devastadora
de proprio punho e bem lavrada
e ao assinar, lá estava:

A Palavra
 


 

Prieto Moreno
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