LEMBRANÇAS DA MINHA CIDADE EM VERSOS

 
Há tanto o que lembrar
Da pequena grande cidade
Fincada entre rochas e serras
No sertão potiguar
São tantas as lembranças
Da minha ensolarada cidade
Até do rio intermitente, do clima quente e seco  
____ agora sinto saudade
 
Saudades do seu calor
Da água com sabor
Do CCP  sempre em festa
Da igreja Matriz
Do seu sino a badalar
Anunciando que tem missa
E é hora de rezar
Nunca pude esquecer as festas da padroeira
As quermesses e procissão
A bateria de fogos
Homenageando a Virgem da Conceição
 
Lembro-me do céu azul claro  
Enfeitado de nuvens brancas que parecem renda
____ feitas por minha Vó Fernanda e minha mãe Maria,
Rendas que recordam as mantilhas
Que outrora usavam as beatas “Filhas de Maria”,
Lembro do clarão d’lua prateada
Iluminando as calçadas,
Da brisa que ela soprava
Aliviando o calor do meu quente sertão,
Não esqueço os fins de tarde
De céu colorido alaranjado
Parecia uma tela
Por Dona Xanana pintado
 
Saudades da minha infância
Das cantigas de roda
Dos bambolês e amarelinha
Dos “dramas artísticos” que fazia
Da correria e banho de chuva nas calçadas
Quebrando o silêncio
De quem sossego queria
 
Saudades dos meus irmãos
Do meu Vô Alexandre,  meu Tio Toinho
E da minha Mãe
Mulher de fibra e destemida,
A nossa casa pequena
Ela transformava em mansão
Cheia de amor e união,
Lembro-me da sua linda voz a cantar
_____ antigos boleros
Que até hoje me traz emoção
Que saudades eu sinto
Da minha juventude
Dos bancos da pracinha,
Que viram meu jovem coração se apaixonar
E o primeiro amor desabrochar
Lembro-me do obelisco, de Seu Zé Afonso e do pavilhão
Que viram meu primeiro beijo
Provavelmente... riram da primeira desilusão
Ou quem sabe... choraram de emoção
Saudades de Carloto  e sua banda
Que nas quentes madrugadas do sertão
A todos acordava e emocionava
Com o toque da furiosa... numa linda alvorada
 
Lembro-me das tertúlias, circos e shows’’
A animar as manhãs de domingo
Da minha pacata cidade
Saudades das tertúlias de Pimenta
Ao som dos Beatles, Roberto, Renato e seus Blue caps
Erasmo, Jerry... E outros da época
Saudades das manhãs alegres a cantar
A mais bela voz no Cine Lourimar,
Que saudade dos antigos carnavais
A disputa entre piratas e inocentes
E seus componentes querendo me paquerar
 
Nas noites escuras ao ar livre... melodiosa canção se ouvia
Eram seresteiros  feito sentinela,
___que sob a janela o sono da amada embala e vigia,
Dessas noites, ficaram lembranças, saudades e emoção,
Já não há canção sob à janela... As radiolas à pilha também não,
Veio à modernidade... A lei do licêncio calou o violão,
Essa saudade me emudece, meus olhos entristecem,
___ Permitam-me chorar ... e poetar
Pra Minh ‘alma não se calar
 
Saudades de todas Socorros, Fátimas, Lúcias, Graças, Marias, Zilmas, Anas e Terezinhas,
Saudades das Lígias, todas as Rosas, Cora, Vânias, Vanja, Vandas, Evanda, Zilmas, Mildret, todas as Santas e Glórias,
Como não lembrar com saudades de Mota e Hélio de Maria Lima, Zito de D.Tereza, Neto de Luiza,
Terceiro de Zé Vidal, Raimundo de Esilda, Hamilton de Didá, Josemar de Careca, de Severino que virou Severo,
Cada um tomou seu rumo e construiu sua própria história
Guardo com emoção o rosto e o sorriso
Desses irmãos de coração
Lembro com respeito professores
Que na minha profissão me servem de inspiração: Fausta, Edilma, Zilma, Nilma, D. Nair, D.Idezuite, Maria Elisa, Socorro Lopes, Ivi, Inácio e Assis Correia, Cônego Caminha, Dr. Geraldo, Jorge, Lineu e Ubiraci,...tantos outros não citados, mas não esquecidos
_____Toda minha admiração
 
Saudades dessa juventude sem drogas
Que levava a vida a sonhar, namorar, dançar
_____ às vezes estudar
Nossas viagens não eram na droga
Quando muito... íamos a Marcelino Vieira, Encanto ou Mossoró,
Um dia... tivemos que nos separar
Deixamos nossa pequena e tranquila Pau dos Ferros
Para na cidade grande... nova vida aventurar
 
Lembro-me da minh’cidade...E sinto saudade
De tudo que nela vivi
Dos sonhos que sonhei
Da sua gente simples e hospitaleira,
Lembro quando de lá parti
Deixando prá trás...Amigos, família e amores,
Minha terra, meu lar...Meu rincão
 
Desbravei outras terras
E nova terra “Natal”... adotei
Encontrei novos amigos
Novos sonhos realizei,
Aqui cresceram meus filhos
E dois netinhos ganhei,
Aqui tem verde, tem dunas, tem mar
____Depois de décadas que te deixei
Mesmo sem verde, sem dunas e sem mar
PAU DOS FERROS... cidade onde nasci... Continuo a te amar.
 
Finalizo meus versos
Rogando à Virgem da Conceição
Que cubra minha terra de benção,
E para meus conterrâneos... povo forte
* ”Feito madeira de lei que o cupim não rói” *    
Suplico a Deus...Por intercessão
De Nossa Senhora da Conceição
Paz, prosperidade e união.

*(verso-Lourenço Fonseca Barbosa- Capiba- compositor de frevos)*

Natal-RN, 04 de Setembro de 2011

Ildérica Maria de Souza Nascimento
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