O MOTOQUEIRO-(conto)-

O Motoqueiro
 
Juca acabara de completar dezenove anos. Havia um mês que se habilitara para conduzir veículos automotores. Seu pai, um empresário bem sucedido o presenteara com uma Harley Davidson semi-nova, mas o tempo chuvoso impedira o mancebo de desfrutar da maravilha de duas rodas. Parecia castigo, desde que recebera o presente, as comportas do Céu foram abertas e durante vinte e cinco dias ele ficou literalmente “aguado” para dar uma voltinha. Vez em quando o Juca subia na “máquina”, ligava o motor e ficava acelerando, imaginando que estivesse na estrada. No vigésimo sexto dia, o Sol finalmente esboçou seu sorriso matinal. Juca levantou disposto, tomou seu desjejum, equipou-se com roupas apropriadas, beijou a mãe, despediu-se do pai com um sorriso, ouviu dele algumas recomendações quanto aos cuidados no transito e partiu, era Sábado, iria pegar a namorada para o passeio de “estréia” do “cavalo metálico” dourado. Estava orgulhoso, afinal, ele tinha uma “Harley” e apesar da pouca idade sabia pilotar como poucos, era responsável, trabalhava na empresa do pai e estudava para se formar em administração, faltavam dois anos para completar o curso. Paula o recebeu com um caloroso beijo, estavam apaixonados, se conheciam desde os primeiros anos escolares, cresceram juntos e o amor desabrochou naturalmente entre os dois, eram felizes. Moravam numa cidade bem planejada, pequena, mas organizada, o que proporcionava aos quase cinco mil moradores uma qualidade de vida excelente. Riacho da Mata, como dizia o próprio nome, ficava às margens de um regato circundado por extensa mata virgem que proporcionava lazer aos pacatos habitantes do lugarejo nos finais de semana. Juca acelerou, ele adorava ouvir o ronco do motor, naquele momento acontecia uma fusão que duraria muito tempo, ele, Paula e a Harley. As estradas eram todas pavimentadas, inclusive as que ligavam o “pequeno rincão” à zona rural e as propriedades ali existentes. Uma delas pertencia ao avô de Juca, “seu” Dorival, que não aparentava a idade física que possuía, começara cedo nas atividades agropecuárias e ainda executava as tarefas da fazenda com muita destreza. Contava com a colaboração de “Dona Rita”, que também sexagenária, não perdia em disposição para o esposo. Juca era o neto predileto do “seu” Dorival e precisava mostrar ao avô o presente que ganhara do pai. Atravessaram a principal avenida da cidade apreciando os exuberantes arvoredos e flores que a margeavam, era muito prazeroso circular naquele trecho, Juca e Paula passaram bem devagar, tanto para curtir a paisagem como para mostrar aos transeuntes sua “máquina dourada”. Minutos depois já estavam na estrada em direção a Fazenda Santa Rita que ficava a três quilômetros dali. Paula adorava os finais de semana na fazenda, “Dona Rita” os tratava como filhos e estava sempre de bom humor, o avô de Juca era mais sério, mas deixava escapar um sorriso quando eles chegavam. Juca chegou acelerando a “potranca dourada” e viu a avó sair assustada do interior da residência colonial que servia de aconchego para todos que ali chegassem e antes de desligar o motor, acelerou mais uma vez, agora com mais intensidade, dessa vez quem apareceu foi o avô, todo sujo, estava tratando dos porcos quando o barulho provocado causou um alvoroço nos suínos que derrubou o velho na lama. “Seu” Dorival, com a cara suja e zangada partiu para cima do neto que aquela altura já descera da Harley e esperava pela bronca quando foi surpreendido por um abraço caloroso e melequento. Na seqüência jogou o neto nas costas, “seu” Dorival era muito forte, dirigiu-se ao riacho que passava a poucos metros da residência e tchibum foram os dois para dentro d’água, enquanto “Dona Rita” e Paula abraçadas explodiam em gargalhadas...
 
Pedro Martins – 30/03/2011 -                    

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