NOITE INTACTA


Nada me falta

Ninguém me espera

Nem aguardo nada!

 

Desfruto dos arrepios

Da frígida pele lograda

Pelos ventos vazios

Desta noite apagada

 

Gozo o ocaso

Do passar do tempo

Por braços cruzados

 

Não vocifero lamentos,

Amacio a almofada

Com pés na cadeira

A marcharem madrugada

 

Regalo-me do momento,

No escuro, fascinado,

Tomado em grafite aceso

 

O não-pensar obstinado

Desfralda seu peso

E as reflexões baldias

Afanam-me o medo

 

Da estelar ribalta

Não me escondo...

Seu pulsar me delata

 

Já me confessou

A albergada lua alta

Que o sol me vigia

Em plena noite intacta

 

(Gê Muniz)

Campinas, 20-05-2010