Sou louco e tenho por memória
Uma longíqua e infiel lembrança
De qualquer dia transitória
Que sonhei ter quando criança.
Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdí, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.
Só guardo como um anel pobre
que a todo herdeiro se faz rico
Um frio perdido que me cobre
Como um céu dossel de mendigo
Na curva inútil que fico
Da estrada certa que não sigo.
Marcos Cunha
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