Outra vez o povo está em cena
Outra vez os leões estão a solta
Outra vez nosso mundo vira arena
E o povo vira presa.
Outro réprobo detém nossos destinos
Com seus desmandos,
desvairios e tirania
E tal qual Nero...
- Que incendiou a antiga Roma -
Este incendeia...
Nossa Pátria a revelia.
De seu alcácer
Onde é um intocável
Emana ordens
que profanam nosso povo
Aliado a interesses duvidosos
Decide nossa sorte
Como um tôrvo.
E
De seu cárcere
O povo ainda ouve
Vociferaram aqueles
já na arena...
Enquanto de seu camarote
Mais um Nero...
Aplaude desvairado
Esta cena.
E, em seu fétido poder
até se julga...
Ser um Deus
A quem todos
devem obediência
E
Para compor seus versos
Pobres e lúdricos...
Deixa a loucura
lhe tomar a consciência.
Sua perfídia
Arrasa a esperança
De expugnar a vida
Que o povo vivia...
Restou apenas rendição
A seus caprichos
E na arena
Restos mortais a reviria.
Óh, gladiador dos oprimidos!
Onde estás que não te vemos?
Marcus Vinícius
o povo brada por mudança
Será cristão o destino que teremos?
Será a boca de um leão nossa herança?
Surja dos céus...
Surja do chão,
Surja do mar.
Viaje léguas
e mais léguas se preciso...
Mostre ao escravo
O caminho do Quilombo
E não permita
Que Teu povo seja vencido.

Incrível como temos a capacidade de acreditar que as coisas não podem ficar pior do que já estão. Durante o governo Collor, compús esse poema e, hoje estarrecido, percebo que ele continua atual e serve, também, para ilustrar o momento político que estamos atravessando. Embora política seja para políticos, enquanto cidadão, antes mesmo de ser poeta, não posso deixar de manifestar à luz da literatura, o que penso e, acredito, tantas outras pessoas devem ter sentido e voltam a sentir cada vez que se deparam com novos governos e governantes.

Durante uma releitura do Governo Collor

Anélio " Rodrigo Di Freitas"
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