Novo Algoritmo do Amor

Eu passo pra direita.
Esquerda.
Corro o dedo pela tela numa velocidade constante.
Sempre direita.
É um padrão.
Corpos esculturais, cheios de beleza.
Sorrisos brancos e brilhantes.
Até a medusa perderia para eles.
Têm ótimos empregos.
Sempre estão viajando.
Uma foto melhor que a outra.
Estão sempre prontos para tirar fotos.
Esbanjando alegria.
Cheios de vida.
Principes encantados.
Jantando sempre em lugares caros.
O documento aparenta ser grande.
Não que isso importe, mas importa mesmo sem motivo aparente.
Já perdi a conta de quantos estão sentados no banco.
Me esperando chegar.
Triunfando na cadeia alimentar,
eu quero apostar todas as fichas em quem me fizer gozar.
Em quem me fizer sentir prazer.
Já estou satisfeito, mesmo sem nenhum encontro.
Tudo o que preciso está aqui.
A sensação de imaginar um encontro.
A ternura de conhecer alguém pela primeira vez.
O poder de imaginar como seria o primeiro beijo.
A vontade de ver todos os dias.
O sexo.
E acabou.
Um não é o suficiente.
Bota mais um, mais dois, mais três.
Não há pudor.
Não há limites.
É tudo em nome do orgulho.
Anos de luta para acabar assim...
Fadados a não poder casar,
ser um par.
Sonhos são destruídos diariamente.
Tudo pelo tesão de ter tudo na palma da mão.
Eu quero, eu posso, eu tenho.
Direita, direita, esquerda.
É assim que escolhemos quem queremos descartar ou usar.
O amor se reduziu à linhas de códigos programados.
Onde apenas os algoritmos podem prever o futuro.
Ou nos fazem acreditar que há um.
Quantas vezes eu já fui o "da esquerda"?
Eu não sinto mais o amor.
Não sinto mais vida nas pessoas.
Ainda prefiro o isolamento da pandemia.
Pra não ter que lidar com isso.
Se desgastar para conhecer pessoas,
pra elas te decepcionarem depois.
Assim como os aparelhos estragam e precisam ser trocados,
muita gente também chega neste estágio.
Só que não há como trocar o coração ou a mente.
Pra gente ou é morte ou é viver solitário.
E tentar enxergar isso como normal pra continuar vivendo.

Hoje em dia, estamos aprisionados em aplicativos de celular. Tentamos conhecer pessoas pelas redes sociais, mas esquecemos do básico: podemos ser quem quisermos nas redes. Nem tudo que vemos é a verdade. Muita gente se esconde em lindas fotos, mas por dentro é podre. Eu tô cansado demais disso tudo.

Em casa, de férias.

Leandro Nascimento
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