Um vizinho tenho, que ama...

Em toda noite, 

pela janela entreaberta,

já se vê a chama

que esse amor desperta...

 

Serve ele a taça de champanhe,

sorri ela pela graça da bondade,

diz-lhe ela que ele não se acanhe,

apanhe beijos no pomar da ansiedade...

 

E valsam, e rodam e levam com eles o mundo,

que sinto-me esvoaçando pelo espaço,

de um jeito doce e profundo,

como se eu entre seus braços...

 

O torpor se avizinha e a luz desce ao chão,

vultos languidos caminham de mãos dadas,

fundem-se um ao outro cada coração,

e juntos, imensamente, sobem as escadas...

 

E mais ver não posso e não devo,

apenas imaginar, me permito

somente o que aqui escrevo,

não posso grafar gritos...

 

E cai a noite em seu último ato,

a chama do quarto se apaga e Morfeu,

que já espiava, como eu, feito um gato,

dorme e me dorme, já não sou mais eu...

Prieto Moreno
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