Quero deixar público que nada tenho a esconder
a não ser
este pacote de bolacha dentro do capote,
este gasto livro, Ulisses, de James Joyce,
esta sensação kafkiana de que o totem
das indiossincrasias católicas, ainda que tristes,
servem de referência a quem pretende um patíbulo,
deixo claro que gastei uma certa palavra até a exautão,
fui coroinha, sim, desses de balançar o turíbulo,
mas que nunca entreguei à toa, meu coração...
Deixo mais claro ainda
que me servi do escuro quando chorei pelo amor perdido,
pensei sinceramente em me matar com um caco de vidro,
mas olhei pela janela e o sol lá fora, com sua língua amarela,
riu e disse- flores - eu renasci como fosse uma donzela,
ri de mim, da importância que a mim dava,
meio homem, meio fera...
E, por fim,
deixo bem claro que nada sei de mim...
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