Às vezes duvido de minha sanidade
como duvido da sanidade do padre
que deve duvidar da sanidade do covarde
que rouba e mata e depois dorme até tarde...
Às vezes duvido da minha honestidade
como duvido da honestidade da honestidade
que se dá sem dizer se cabe no balde
daquele que serve fazendo alarde...
Às vezes duvido do meu próprio juízo
como duvido que os juízes tenham juízo
para julgarem aquele que jura dizer a verdade se preciso
e mente descaradamente na cara do jurados imprecisos...
Às vezes duvido que a poesia seja uma coisa para ser dita
se tantos dentro e fora já a fizeram senhora pudica e prostituta maldita
desejando deflorá-la sem lhe perguntar se ainda é casta e virgem
ou se apenas basta um desejo carnal para que o espírito fique livre...
Às vezes duvido que haja um destino
como duvido que o destino um dia tenha sido menino...
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