"Também possuo meus momentos de lucidez. E não é quando olho para o azul do céu sob a minha cabeça. Simplesmente tudo cai, como pedaços de corpos estraçalhados. Eu vejo cada veia dos meus braços estourando, dou belos nomes, enquanto minhas mãoes tremem e eu digo em baixo tom que não posso voltar atrás. É uma maldição infinita. Eu não quero mais estar dentro do ouroboros.

 Sabe como é sentir frio no Sol? Ou quando na calada da noite, em um quarto solitário, uma ventania se cria e te veste dos pés à cabeça? Não... isso é para poucos. Para os lunáticos. Estou olhando, olhando cada traço vivo, que em pouco tempo estará apodrecido, seguindo seu rumo natural.

O que há de ruim em apodrecer? Me deixe, me deixe ser. Posso arrancar essas correntes? Elas nunca existiram. Eu sou, eu faço, transbordo, aborto ideias prematuras, assassino planos bem sucedidos. Escolho e mergulho em mares cada vez mais profundos. Eu? Quem sou? Isso é hilário e triste. Vago. Inédito. Imenso. Pude testemunhar a imensidão de um olhar insano, cheio de remorso, aos prantos, mendigando carinho, tudo em busca de si mesmo, do seu próprio caminho. Enquanto isso, eu já havia partido, havia encontrado o meu transporte alado, uma flor de lótus sendo devorada pelos próprios filhos"

 

Ágani L.
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