Mamoeiro
 
Ó, mamoeiro, meu mamoeiro,
Por que não foste um limoeiro?
Talvez parreira ou laranjeira?
Qualquer pé de frutas acres
À minha língua e à minha barriga
Satisfazer acidamente.
 
Um pássaro com sementes planou
Sobre meu quintal anos atrás
Tinha planos d’alguma terra semear
Eis que nesta hortinha depositou
O gérmen negro doutro pomar,
Extraído por um bico certeiro.
 
Lá no alto, além das cercas,
Vejo mamões já putrefatos,
Fora do alcance de gatunos braços.
Reservatório de varejeiras
Dele nem as aves se alimentam,
Um dia há de cair e adubar
O solo enegrecido igual.
 
Folhas com dedos longos, nove,
Caem do seu braço molengão
Semanalmente – lástima da nudez.
O caule denuncia a amputação
Naturalmente operada a tez,
Indiferentes e apressados
Brotam quatro outros galhos.
 
Doo mamão às mamães
Que já muito me deram pães;
De receitas é ingrediente.
Filetes verdes amarelam
Até se alaranjarem nas vasilhas,
Mas no invólucro não estragam.
 
A cada dia mais imponente:
Mamoeiro, parece que zelas
Por mim e por meu par.
Ali, entre as duas janelas
Que mal se prestam a contemplar
A formosura de crescente fruta

Para azar da concretude

a.nor.mal.idade
© Todos os direitos reservados