Os mestres ensinaram a nós, tataranetos,
Sobre a Renascença, a arte, as tragédias, as bacantes,
E como entender e elaborar os afetos.
É tão bom se apoiar nos ombros dos gigantes

Há várias auroras ainda não levantadas
E há livres espíritos que desmascaram
Toda a tradição e as farsas estatais
Ousando manter a liberdade conquistada.

Vamos retirar o véu da realidade
Coberta por incorrigíveis idealistas,
Que exilados fazem do inferno um paraíso
E veem a luz vital do mundo como arisca
Tal qual um vampiro com seus olhos vazios.

É o pretenso fim da história o mal-estar moderno
Por comodismo e por tédio a massa reduz-se
A imitar e a consumir, louvando esse instante.
Os seres autômatos não podem saber
O que é ser pleno, um caso deveras flagrante

Chega desse homem de sucata e amputado
Especialista tornado, mero operário
Da cultura filisteia bajuladora.
Formam-se medíocres e vulgares calados

É preciso de um pouco de insensatez
Pra dançar e escapar do cárcere do logos,
Um império que manipula e adestra a todos
Para alimentar o mercado, toda vez.

Até mesmo o saber reverteu-se em meio
Utilitário, só para o lucro mercantil,
Girando a roleta do último apostador vil
Que tanto promete, tampouco cumpre.

Os poderes, a mídia, domam e hipnotizam,
Vendendo panacéias; ora, são placebos.
E o povo, tão cego na inércia do seu hábito,
Rotula e mente a si, é rebanho mancebo.

Populacha queixosa, só engole e se embota
É apenas acidente, jamais a potência,
Ela anseia por uns bodes expiatórios
Que aliviem a própria degenerescência.

Aceitemos o devir; conceitos não congelam,
Não deixemo-los mumificar – uma opressão
Que nossas limitadas perspectivas geram.
A morte deve ser o acabamento do intenso

O corpo sente, vibra, pensa e deseja,
Serve de referencial à boa vida.
Queima, incendeia, faísca, arde, lampeja!
As dores do parto também são bem vindas.

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