A dama das seis horas; A Morte

No leito do hospital acordo com o bater da porta, foi a enfermeira,
meu mal-estar me faz chamá-la de volta, mas ela não vem,
são quase seis horas, desagráda-me saber, não gosto dessa hora,
e agora, sinto medo ao perceber, que a enfermeira foi embora,
todos os dias vem, faz meu corpo estremecer-se de medo,
uma bela dama trajando um longo vestido negro.

Trazendo nas mãos um copo de vinho tinto,
no começo de uma noite tão negra,
e pela janela vejo o céu sem estrelas,
sozinho, ninguém sabe como me sinto.

Não há mais visitas, nem a esperança e nem a alegria,
me sinto tão sozinho na sua companhia,
dama de olhos tão negros, assim como seus cabelos,
a tristeza em seu semblante me põe em desespero,
no seu cabelo liso e belo leva uma rosa vermelha,
a faz ter estranha beleza à qual nada se assemelha.

Nas mãos traz fogo e fumaça,
razão da minha agora desventura,
meus atos falhos de vida impura,
traz com ela o erro e a desgraça.

Leva na face um sorriso largo,
deixa-me assustado,
e antes de me fazer dormir,
via todos os dias ela a sorrir,
mas ontem me fez sentir uma tontura forte,
apresentando-se pela primeira vez dizendo-me ser a morte.

No dia seguinte vinha o doutor me dar a dolorosa notícia,
tirando os óculos ao dizer que eu só tinha mais duas semanas de vida,
assustei-me ainda mais quando ví que com ele vinha a dama de negro,
deixando cair e quebrar o copo de vinho manchando o chão de vermelho,
debruçou-se sobre a cama como que triste e em seguida levantou,
em seus olhos escorreram lágrimas de sangue assim que o fogo que trazia nas mãos se apagou.

Guilherme Pedroso Oshiro
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