Eu, o poder!

 Cala-te, poeta!

Teus sonhos altruístas e liberais
ameaçam os meus, consumistas e tridimensionais.
Tuas atitudes certas se imbuem de gritos de alerta
às minhas, duvidosas e incorretas.
 
 
Teus voos inusitados e abrangentes
podem estimular muita gente
a quebrar correntes...(Hoje, liberdade aparente!)
Voos incoerentes a uma inverdade existente.
A luz que irradias ameaça clarear caminhos
que quero manter em vão...na escuridão.
 
Tua essência põe em risco toda a abordagem da embalagem
roubando-me a prepotência, a persistência...
O teu lirismo contagiante carrega multidão adiante,
mudando seu pensar...
E eu não quero vê-la dissipar.
 
Tua poesia é como um escudo salvador
livrando-te a alma do poder avassalador...
Tua sensibilidade me acovarda, me amedronta
ao quebrar o gelo da sociedade, que me afronta.
Teus anseios pelo fim das desigualdades
ferem meu egocentrismo, minha vaidade.
 
Enfim, cala-te, poeta!
Não destruas meus castelos construídos
Pelo suor, sangue e dor
De um povo pacato e sonhador!
 
_Carmen Lúcia_