Quantas vezes perdoei...
Mais que setenta vezes sete.
Quem sabe a alma se abastece
e nunca mais venha a sofrer.
Dei minha cara à tapa
sem sequer contradizer
as vontades que preponderaram
e por longo tempo vi prevalecer.
Calei minha boca em consentimento
mesmo com um não na ponta da língua
a explodir a qualquer momento
podendo até reverter minha vida
alterando o argumento.
A covardia e o medo se infiltraram em meu peito
e mais uma vez o não se calou, rejeito.
Mantive o disfarce colado a minha face
e a irrealidade projetando o que não era,
o que não quisera, o que não condissera com a verdade.
Oportunidade perdida não volta atrás.
Mas o tempo é borracha. Apaga e volta a escrever.
Reinventa enredos. As emoções já vividas
deixam o palco e num canto qualquer, vão morrer .
O perdão não tem mais razão de ser.
A história em questão muda o contexto,
os capítulos se compactam, pedem fim,
a mágoa até então guardada, jaz isenta desse texto.
A liberdade concedida passa bem longe de mim.
Feito um pássaro cativo diante da gaiola aberta
sem saber o que fazer, sem ter para onde ir.
Alça um voo rasante, itinerante sem destino.
Retrocede ante a dubiedade dos caminhos...
Tem nas mãos o livre arbítrio,
mas não no cerne o desejo que impele.
A liberdade interior que o libere.
_Carmen Lúcia_.
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