Olhar  o mundo pela cabeça;
Sentir a dor pelas avessas;
 Ir a lugar nenhum.
 
Noite adentro;
Escuridão;
Faróis dos carros,
Que iluminam a direção.
 
Solidão.
A cada segundo mudam os rumos;
Mudam as pessoas;
Idéias morrem;
Nascem esperanças.
E ninguém mais se encontra.
 
Enquanto a chuva não chega;
Enquanto o calor é imediato;
Enquanto a gente não festeja...
Só o coração, em algum lugar, bate.
 
A boca pronúncia;
Os olhos denunciam,
A alma dissimula a vontade do corpo,
Para que a existência sinta pouco,
A dor que vai dissecar os próximos dias.
 
Tudo ao redor perde o valor;
Não o que alimentar;
Não há o que sorrir,
Pois a saudade,
Companheira da agonia,
Prenuncia a desistência de tantos que formaram a alegria.
 
A vida acaba com a morte,
De tal sorte,
Que é importante viver intensamente,
Pois a todo instante,
Não há se não o agora.
 
Amigos, amigos vão embora,
Ficam sós, se perdem nas galerias.
Reféns de suas nostalgias; choram,
Berram, gritam e nunca mais são ouvidos.
Impedidos pela natureza da idade,
Guardam na sinceridade,
Os versos, que perderam a oportunidade de existir.
 
A cada parabéns,
Quem sabe o que tens,
Pois diante dos muros,
Que não consegue-se alcançar;
Diante das flores, lá fora,
Que não se sabe para quem ofertar,
Vai-se ficando no canto do silêncio,
Que os filhos não ousam nem visitar.
 
É difícil olhar o mundo com estar...
Tanta tecnologia;
Tanta sabedoria;
Mas há África em qualquer lugar;
Há quem procure cegamente a essência do ouro,
No colo mórbido de uma simples mesa de bar.
 
Se dizer e falar é o momento,
Que seja para parar;
Que seja para olhar;
Que seja para refletir...
O quanto nós civilizadamente estamos nos importando com outro.

Raimundo Alberto Tavares Amoêdo
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