A  CEIA


     Não fosse um providencial pormenor, aquele dia certamente seria tão igual aos demais dos anos anteriores. As pessoas da família e alguns convidados bem próximos esbanjavam alegria com a troca de presentes-tanto do amigo secreto como do amigo da onça-misturado ao burburinho das crianças, que atentas a tudo, também aguardavam os seus.


    Nós como anfitriões pelo sexto ano, não conseguíamos precisar o tamanho da alegria que envolvia a todos ali na chácara. Era para nós um orgulho muito grande, um encanto, uma magia!


     Os rojões já pipocavam no céu e aquele espetáculo de cores parecia uma tela pintada por Deus, tamanha era sua beleza e vibração!


      Era meia noite e já iniciava o ritual de cumprimentos com desejos de boas festas - muito comum nessa data do ano. De repente me lembrei de uma família que habitava um casebre numa antiga olaria, não muito distante dali, abandonada à sorte por um ex-patrão mal sucedido nos negócios. Aquilo me incomodava!


       Nossa ceia fora colocada sobre uma grande mesa com uma toalha branca, dando o colorido de tanta fartura! Era tanta coisa que, além do desperdício, sobraria muito, como sempre.


        Foi quando, de súbito, peguei uma grande travessa de louça branca no armário e da ceia peguei um pouco de tudo. Cobri com guardanapos de papel e uma rosa vermelha que coloquei sobre a travessa cheia. Tirei da geladeira alguns champanhes e em poucos minutos estava eu buzinando diante daquele casebre. Notei acender uma lamparina e lentamente a porta foi-se abrindo e a escora de mão de pilão colocada ao lado. O forte cheiro de querosene queimando já estava impregnado naquele ambiente.


          O chefe da casa, ao me reconhecer, não entendeu o que eu fazia ali, e tratei de explicar imediatamente. Foi quando o homem girou nos calcanhares e anunciou: Temos visitas! Rapidamente, uma a uma, várias crianças saltavam de um velho colchão estendido por ali a esfregar os olhos, surpresas.


           Após prender os cabelos, a esposa veio ao nosso encontro com uma espécie de toalha para cobrir um caixote, que deduzi ser a mesa de centro.  Depositei ali a travessa cheia de coisas gostosas, naquela mesa improvisada.


           Quando já me preparava para partir, 

egê valadares
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