Vim do mato, vim de longe,
vim do verde que é verde -
verde-claro, verde-escuro,
verde-lima do canavial
Vim de onde o céu aberto
derrama estrelas no chão
Onde a lua sem respeito
desnuda indecente clarão
Vim por uma estrada grande
que despejava riqueza
De um lado explodiam vacas!
De outro, cana. Beleza!
Mandioca, carne e porco;
laranja, galinha, goiaba
Peixe de rio em abundância,
quiabo seco, sem baba
Cheguei na cidade, o asfalto,
concreto, poste luz
Não pensei que houvesse chuva
Moça, menino seduz
A noite pensei que era escura
mesmo que estivesse nua,
mas quando olhei pra distante
vi muita gente na rua
Arregalei grandes olhos
e vi que tudo brilhava
num banho prata insistente
surpreso, me embasbacava
Dei uma olhada de novo
pra cima, pro céu, pro além
sem saber, gritei pra todos:
- E aqui tem lua também?
(in Coisas do coração - João Scortecci Editora São Paulo/SP - 1993)
© Fernando Tanajura
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