É frio na cidade quando finda a balada,
Caem cândidos cristais filhos do inverno,
Hoje, neve, paraíso; amanhã, sujeira, inferno,
Meus pés afundam nessa massa gelada
Enquanto caminho com atenção velada.
 
Cruzo o parque de vegetação negra e torta,
Desfolhada pelo frio, ressequida, natureza morta,
Sopra um vento branco, voz muda da noite,
Fecho meu casaco pra me proteger do açoite
Que o inverno desfere em mim, como corta!
 
Emergem pequenos rubis no manto branco,
Sigo-os, misto de curiosidade e espanto,
E a encontro, desfalecida sobre um banco,
Uma face serena sem sentir, bizarro encanto,
Sem agasalho, pele alva na candura do gelo.
 
Me aproximo e vejo que a ela pertencem
Os lúgubres rubis, legado de sua pulsação,
Escarlates Jóias que coroam o branco chão,
Pobre menina, qual terá sido o fim que teve?
Princesa do inverno, triste Branca de Neve.

Daniel Murata
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