Paisagens da Vida

 

Quero ver a vida assim como a paisagem
que vejo do lado de cá da janela,
perfeição divina que se entreabre
aos meus olhos afoitos dessa aquarela.

Quero flores coloridas
e os acordes do amor latente
a beijar-me de manhã
deixando rastros de essências matinais
a traspassar contextos existenciais
suavizando o decorrer dos dias
e alimentando as minhas fantasias.

Mas assim que fecho a porta
e piso a paisagem à minha frente
as cores se desfazem em pressa
que mancha minha aquarela...
O sorriso das flores murcha
e os acordes do amor latente
se desfazem entre o barulho
que me invade de manhã.


E a vida se mostra irreverente,
indiferente aos anseios que me invadem,
sentimentos em combate
fluem sem muito espaço
refletidos em lágrimas que se contém,
desolados entre flores apagadas,
numa paisagem ofuscada…

Assim encaro o caos do dia.
Sento, levanto e vou em frente...
Atrás está minha janela,
moldura de toda a inspiração.
À frente a vida em revelia
distorcendo a fantasia
de minha utópica visão.

Mas dos sonhos não consigo desistir,
absortos no esforço
de um botão que quer se abrir...

 _Arlete Castro & Carmen Lúcia _