É só mais uma mãe, em uma fotografia,
mas seu rosto sério, de olhos tristes
denota que alguma magia se esvaiu.
Uma mãe que não tem mais nada
além do amor incondicional pelos filhos,
um amor que errou muito, mas ainda assim
deseja só o bem para seus dois adolescentes
e duas crianças.
Uma mulher simples, divorciada de um meliante,
vive na periferia de São Paulo,
ocorre que cresceu no meio da prostituição,
se desenvolveu no meio do tráfico, no Rio,
e a sua própria mãe não a amava, nem ligava pra ela,
ainda assim, a maternidade é seu maior bem,
e tudo que faz, é por eles,
o que gera forças pra trabalhar todos os dias
ganhando pouco, sofrendo muito
é mais uma proletária de baixa renda
casa modesta com alguns pertences,
vida modesta com alguns que a respeitam
quase nada a oferecer,
inteligente embora com pouco estudo
fui sua professora, na suplência,
conheci seu filho que hoje é "liberdade assistida"
sei de sua filha, ótima aluna, e suas duas crianças ...
Deve ter suas diversões, deve ter suas paqueras,
deve ter seus conflitos, amargar suas perdas e danos.
Numa mesma avenida, ela vem de lotação entupida,
abarrotada de trabalhadores cansados,
enquanto eu volto, também cansada, de carro,
sola do sapato intacta, realidades diferentes,
outro tipo de angústias.
Ainda assim, sinto a dor dela e uma imensa empatia,
eu pensei nela várias vezes, depois que vi sua imagem
- e como não poderia amá-la?-
era a foto de uma mulher guerreira, uma mãe triste.
Cotidiano de escola, sua comunidade, seus conflitos.
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