Carta para Ti
 
Cada verso teu é o alto brado
de revolta e da dor, d' amor,
d' esperança, de fé e do desejo.
Cada estrofe tua encerra em si
a força da palavra silenciosa
que teima em cerrar-te os lábios.
Cada rima é a procura simétrica
das ideias que te trespassam,
furiosas, a mente febril d' emoção.
Cada métrica é a sístole e diástole
do teu coração jorrando amargura,
ferido de mágoa, perda d' ilusões
raiadas de temores profundos.
Cada título é o supremo resumo
da vontade audaz de declamar,
aos ventos, os males e desgostos,
os tormentos, os sonhos, os ais,
pesadelos, imaginários, rotas.
 
Mas a negação deste enredo escrito
é a adaga que fere mortalmente
quem te lê e ousa sonhar contigo
e a ti te trais na coragem ténue.
 
Nesta carta não te desejo nem bem
nem mal, sequer beijos e rosas falsos,
mas acusa-te de infidelidade poética.
Almeja simplesmente a tua libertação
de maldições vis a que te expuseste,
sonegando a menina, sagrada ou não,
Que das cinzas de Sodoma e Gomorra,
onde eu ardi por luxúria, renasças fénix.
 
Que sejas para sempre e apenas mulher.

Triste Poeta
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