A Árvore de Mil Anos

Lenhador matou uma árvore!
Vou levar para queimar!
Marceneiro ouviu a queda, correu, tentou salvar.

Entristecido falou:
Lenhador porquê matou!?
- Não tive intenção de matar!
Arrependido estou, já não posso consertar!

Lenhador chorou e disse:
Se eu pudesse voltar atrás, jamais faria isto!
Marceneiro desabafou:
Cem anos se passaram até êste dia chegar...
D'um golpe desnecessário se fez tudo desabar!

Qual motivo e qual razão lenhador pro machado afiar!?
Quão magestoso tronco tombou!
E o tempo, o que dirá!?
Ergueu seu braço contra mim!...
Fêz meu capricho cessar;
tanto trabalho eu tive e nisso que veio dar!?

- Lenhador eu sou o tempo!
E agora o que fará!?
Pavôr e grande mêdo fêz lenhador desmaiar...
Marceneiro correu depressa pra ajudar lenhador,
e ao tempo disse:
Sê com êste como foi com ela... Ergue-o novamente.

Lenhador abriu os olhos... Sonho terrível tive...
Percebeu em seu lugar a falta do magnífico tronco
que de pequeno viu criar
- Maldito seja o machado que êste tronco fêz tombar,
seja também o seu braço que daquí o carregar

- Lenhador não diga isso porque maldito será...
Lenhador de olhos tristes fêz-se o juízo chegar...
Marceneiro me ajude, como posso reparar...
Desfiz o trabalho do tempo, me ajude a consertar...

Tempo me perdõe, como posso te alegrar
- O tempo lhe sorriu e disse: O marceneiro dirá!
- Seja o machado e o teu braço que maldito foi,
abençoado será...

Levemos ao lugar de talento e um móvel se fará...
Assim se fêz os cem anos, aos mil anos chegar.  

Antonio Carlos Carvalho
© Todos os direitos reservados