Sou flor de papel.
Desmancho fácil.
O toque da mão amassa-me,
Um contato mais ágil rasga-me.
O molhado dissolve-me,
O perfume mancha-me,
O tempo desgasta-me.
Sou flor de papel,
Um desenho a lápis.
Só é seguro, contemplar-me.
Ao tocar-me,
Corrompe minhas faces,
Dilacera minha integridade.
No papel, retratada,
Estou segura.
Em outro formato e matéria,
Eternizada.
Mas se toca e apalpa,
Examina, aspira ou aperta,
O desenho deteriora.
Deixa de ser a flor que era.
Deixa de ser, o desenho,
O papel de outrora.
E a flor muda de feição,
Ganha outra história.
Pode mesmo continuar flor
Como pode desmanchar, sem sobra.

Lári Germano
© Todos os direitos reservados