E eu mais uma vez estava cansada daquela rotina.
Olhava para os carros que passavam pela mesma avenida por onde eu estava.
Aquilo tudo já me cansava, não só o corpo, nem a mente e nem os olhos, mas os sentimentos já não eram mais os mesmos.
O vento daquela chuva molhava toda aquela rua cheia de carros e as folhas cobriam as calçadas por onde eu também passava.
Meu coração disparada pelo desespero de não querer fazer nada. Aquele dia seria mais um e nada mais.
Aquele trabalho aos poucos ia se tornando chato, as mesmas pessoas de sempre e as mesmas coisas para fazer.
Ninguém mais me entendia...
A minha rotina me irritava como a tua irrita a você.
Naquela noite de antes eu chorava por já não ter mais tua presença. Eu ouvia aquela música que tudo dizia.
Eu me sentia abandonada pelo abandono do teu abandono. Pelo meu abandono.
Deixei-me levar pelo teu olhar e parei onde estou, onde você me deixou.
Não caminhava mais com o coração e tudo era automático, as coisas não mais tinham sabor.
Tinha que fazer tudo e não queria fazer nada a não ser ficar naquela solidão de sempre, a solidão que meu quarto me oferece.
Mudava minhas opiniões e era condenada, olhava para o lado mas não via mais nada.
Daquela minha janela apenas a noite fria e escura eu poderia ver. O meu rosto sentia todo aquele frio, pois já era hora de se recolher.
Naquela noite nem mesmo as estrelas brilhavam, a noite era cinza e meu quarto escuro.
Eu sentia apenas sua falta.
Eu te queria de volta, queria a tua presença, aquela que jamais tive. E você talvez nem saiba a verdade.
Te preocupava em outros rostos, em outras vozes, em outros cheiros, mas você nem por perto estava.
Tudo acabava de recomeçar quando aquela outra lágrima rolou. Tudo que escondia voltou.
Eu não queria mais me lembrar do que já tinha esquecido, a dor eu não suportaria de novo. Os olhos se fechavam enquanto eu agonizava naquela tristeza.
Meu coração pulsava novamente a dor de não ter tido, as lágrimas escorriam chamando teu olhar, a música tocava as palavras que eu não mais queria lembrar.
Eu adormeci na esperança de te reencontrar, encontrei você naquele sonho e somente um sonho.
Aquela máscara que sempre uso caiu naquele momento e se absorveu com o chão. O que seria de mim?
Aquele vento frio no dia tão cinzento, as pessoas olhavam meu rosto feio. Eu já não tinha o motivo de viver.
E porque é que iria continuar se quem eu quero não pode estar?
As vidas são paralelas e talvez jamais se cruzem, mas assim eu encontro uma nova máscara e talvez melhor do que a que você usa.
 

 

*Anelise Lena*
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