Os poetas recorrem aos mitos para expressar os mais remotos sentimentos e mostrar ao mundo uma outra forma de pensar  e falar. Os sentimentos expressos pelos poetas parecem pular dos recônditos mais remotos da alma. Se não for isso, tudo o que eles fazem não passa de uma pseudo-retórica. Eles apelam para paixões impossíveis e recorrem a uma suposta imanência divina para inexplicar o que pode ser explicitado somente através da retórica, se é que no bojo divino as explicações têm utilidade prática.
Entretanto, a relação do poeta com deus se torna conflitante à medida que ele tenta resumir os argumentos inverossímeis à natureza cósmica, ou seja, à suposta natureza divina. Em certos momentos o poeta se coloca ao lado de uma transcendentalidade que se assemelha a uma entidade sobrenatural.
O poeta não quer fazer o papel de deus, mas ameaça destroná-lo com sua excentricidade. A contemplação poética parte de uma visão abstrata e se perde numa concretude heterogênea em que ele próprio é incapaz de detectar a autenticidade de suas asserções. Através de sua inquietude o poeta busca um conceito sagrado para a essência de deus e para a descrição do seu poema.
 
 
JOEL DE SÁ
02/10/2009.
 

 

Joel Pereira de Sá
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