diante à folha alva
um desafio

preenchê-la no vazio

da alma que se nega
a ceder-me voos
alçando-me além...

pequeno meio restrito
prisões, receios
e labirinto

insisto, preciso, necessito,
portas a escancarar
do meu eu mais aflito

enfrento as brumas
arrisco-me em gritos
dos becos nas escuras

liberte-me, medíocre vivência,
me devolva a vestimenta
de minha real aparência

visto o disfarce e descontraio
nas vestes parvas de um pândego
ensaio gargalhadas me distraio

corda bamba vacilos desengonçados
enredos trôpegos desandados
entes desatinados e alvoroçados

rol de horrores, desenganados,
cantarolando canções vulgares
antro de suplícios desgraçados

num tropel desabrido
coreografias sensuais
em fugas de si, ao desabrigo.

urgem ensolaradas manhãs luzíveis
entardeceres sem melancolias
e noites sem enfados previsíveis

sabores requentados
de discursos corroídos
e aplausos esperados

gentilezas cordatas
gestos ensaiados
mensagens enlatadas

devolva minhas dores
tremores e medos
do inusitado brindo o fel

renego o fácil
convencionado
do bem estar e seu papel...

...escrever, como ficção, criação é um desafio...o de se expressar buscando o novo, fugindo de fórmulas que deram certo...busca-se o insano, meandros, que possam nos trazer algo inédito, nem sempre conseguimos, mas as tentativas são também desafios...