As vezes paro e olho para o nada...
O meu "nada" é tão vasto, não sei o seu...
Repleto de possibilidades de se repensar, de se redescobrir...
Saio de mim e tento me observar, me sentir...
É difícil se olhar e perceber nossa natureza tão mórbida, nossa essência tão rala. Isso deve mudar.
O espelho nos desafia, nos provoca.
É nele que nos encontramos, nos olhamos face a face.
É ali, naquele momento sagrado que se vêem as marcas do tempo, a alegria versus a dor, o fracasso versus a conquista, o amor versus a solidão. Me dá medo...
Mas por que sinto medo se eu mesmo procurei o espelho ?
Talvez o medo de enxergar que poderia ter sido outro, que poderia ter viajado naquele final de semana, ter ficado mais tempo com aquela pessoa especial, ter conversado mais com aquele que gostava tanto de mim.
No entanto, o passado que o espelho me traz já não existe mais...é uma ilusão...só existem marcas. Apenas marcas. Respostas ? Tão pouco.
O espelho apenas mostra o tempo presente, o meu presente. O mesmo que procurei viver intensamente a vida toda. Viver intensamente para que ? Diante do espelho busquei o passado, pensei no futuro e não tive coragem de encarar meu presente, o meu "EU" aqui...agora.
Com um golpe certeiro quebro o espelho, quebro a mim mesmo.
Não sou nada, apenas cacos...que já não refletem mais meu todo, mas uma infinidade de "Eus", dispersos no chão da vida, cortantes como as escolhas que nos impusemos...
Mas talvez seja mais feliz assim...sendo um espelho quebrado, talvez me sinta menos todo e mais parte, talvez não precise recolher e colar os cacos, eles são tão sinceros
Foi preciso um golpe, um levante, um movimento brusco e uma quebra para que me encontrasse mais...talvez precise vez em quando quebrar alguns espelhos para perceber e me ver de forma mais real, como eu relmante sou, um complexo mosaico, um ser de possibilidades ilimitadas...

Fernando Cezar
© Todos os direitos reservados