Ajude-me a entender o mundo

 Já não durmo nas canções de ninar muito embora os sonhos persistam em existir, pois, alguns sonhos esvanecem, outros renascem numa rapidez de noite após noite nas trevas rotineiras de viver o tempo.
Por favor, me ajude a entender o mundo!
Eu quero sentir a criança que há dentro de mim, faze-la gritar para o universo e rodar a ciranda que a vida nos levou.
E a vida já não é mais a mesma! O sorriso já não é mais o mesmo! A pureza já não existe.
Há em tudo um toque de maldade e um tudo de competição. A disputa se acirra a todo o instante o que me faz sentir falta, sentir saudades dos momentos puros escritos a lápis da infância e que a borracha do mundo adulto apagou.
Já se foi a ilusão de ser o que pensava, desejava ser, e não fui e nem jamais serei. Sonhei em ser advogado, mas a justiça me decepciona.
Já se foi a picula, o guerreou, a ordem unida, o garrafão, a patinete, a bola de meia jogada nos “recreios” do colégio.
Já não há mais patinete!
Será que o mundo mudou tanto?
Porque será que as crianças de hoje já não brincam de capitão como as de ontem?
O fato é que não há mais patinete!
Oh! Meu Deus! Me ajude a entender o mundo pois quero dormir ninado na melodia do “Boi da cara preta”.
Eu quero as crianças filando aula para empinar periquito feito de páginas de caderno, antes de eu ser vencido e jogado ao solo baleado por uma assaltante que não teve infância nesse mundo estúpido.
Eu quero sentir a criança novamente, afinal, ainda não morreram em definitivo certas vontades que permaneceram dentro de mim. A vida adulta ainda não possuiu por todo a minha capacidade de vencer as desilusões, angustias e maledicências.
Não! Não é saudosismo. Às vezes afloram em mim num misto de pranto e recordações as coisas de tão pouco tempo atrás, e choro no fundo do peito e às vezes literalmente olhando as crianças de hoje.
Na verdade o elo que me liga a infância passada é a vontade de ver todo adulto aflorando a criança que existe dentro de cada um de nós.
Por onde andam os periquitos, as patinetes com guidom, freios e outros apetrechos de fundo de quintal?
E já não há mais quintais. Foram substituídos pelos play-grauds de grandes prédios.
Isso petrifica o meu coração.
Contudo acredito que deva haver alguém, em qualquer lugar que saiba contar histórias como “D. Baratinha e seu Ratão” do “Velho e o Mar”.
Por favor, me ajudem a entender o mundo. Que dor no peito!
Só descobrimos o quanto fomos felizes depois que essa nuvem passageira se dissipa no céu dos nossos sonhos e da nossa vida.
Eu imploro, ajude-me a encontrar alguém que me faça entender o mundo.


 

André Luis Magalhães
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