Sou modista e me baseio no que está no atual.
Não me importa ser atual. Isso é coisa do passado.
Para que ser anormal quando se pode ser normal?
 
Leio o que é in, e ignoro o que é out.
Não me importa a qualidade, vou ler apenas porque almejo ser legal.
Isso porque eu vou apenas dar a ‘social’.
 
Vou gastar meu Money com a roupa que elas querem que eu use.
A calça colada, a bota bonita e a blusa que deixa o útero aparecer.
E nada mais, mas quem sabe gastar dezenas no cabelo.
 
Não ouço Cazuza, e não leio Camões, jamais admirei Renoir.
Nunca ouvi falar de Sheldon, e para que me serve o dicionário?
Vou saber apenas inglês, e fazer Marketing.
 
Porque eu sou in.
 
Matarei o português correto, jamais acentuarei idéias.
E jamais pronunciarei conseqüências.
Porque eu nada mais serei do que atual.
 
E se escrevo, meus homens serão gays.
E então escrevo, meus homens serão mulheres.
E minhas mulheres heroínas.
 
Vou ser veggie porque é in, carne é para pessoas out.
Vou dançar até o chão, cair e quebrar a cara.
Namorar o bonitão, loirão, gostosão.
 
E então, lerei vampiros brilhantes, lerei homens femininos.
Lerei mulheres fantásticas, lerei qualquer bosta que a moda disser.
Pois serei apenas eu e a maldita moda.
 
Ignorarei os mestres, abdicarei ao meu passado moral.
Não me importarei com fome ou com guerras.
A minha dedicação será o espelho trincado.
 
E no final, qual será a pena? Pois de tanto ler apenas o atual
Não me valerá nada, porque este é o normal
E o normal nada mais é do que o conceptual.
 
E quando a passarela tiver seu fim, eu encontrarei o meu.
Culturei-me com merda, meu jardim astral estará podre.
E serei mais um manequim que o meu humano deteriorou.

Maria Júlia
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