Eu... bem sei.
Tenho em mim todos os miseráveis aspectos
De quem anda mendigando pelas portas todos os afetos
Carregando na memória os nostálgicos adeus
Dos amores que se foram e dos que irão
Misturando toda a verdade com uma tal acusação
Paralelo à humilhação sem fim:
"Gosta um pouquinho de mim! Gosta um pouquinho de mim..."
Eu... bem que tentei.
Ter o olhar compreensivo de todas as mães
E herdar dos pais as grandes mãos
E numa simplicidade singular e qualquer
Ter um sorriso desinteressado
De um escravo que avista a liberdade mas não corre
Acreditando, atado, no cintilar golpes do chicote no passado:
"Por que não me deixa? Por que você não me deixa e morre?"
Agora, deitado, confesso, ao olhar o teto
Que só doía enquanto eu respirava
Mas aliviava quand'eu inalava
E incomodava-me o quanto meu sorriso soava gentil
Quando talvez o que mostrava era profundamente ácido
Incomodava-me o quanto meu sorriso soava gentil
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