MOINHO QUE TRITURA OS MEUS E OS SEUS SONHOS

Moinho que tritura os meus e os seus sonhos
Moinho que alimenta emoções e afina canções
Moinho novo e antigo guardados em meu peito
Moinho de papel e de pedra, meus velhos amigos
 
Basta um homem que conheça a força da água
Basta no máximo um rasgo no encostado da serra
Basta que seja terra baixa, terra encharcada
Basta ser terra e que tope cultivar o amor
 
Tem que ter homens trabalhando sempre
Com chuva, com sol, com lua e com frio
São pastos de vacas leiteiras no dia de ontem
Hoje nada, nem o bezerro, pro homem com fome
 
Corta o capim, tritura a cana e mistura o feijão
Carrega o burro, separa o boi e prepara o doce
Recria a rapadura, feita pelo homem mole da terra
Que matando a abelha faz a divisa do coração
 
É preciso exportar a gravata e amar a pata prá si amar
É preciso ser pião pra aprender a rodar e encontrar o caminho
É preciso ser ninho onde se aprende a não ser sozinho
E preciso ser a terra que bem longe da guerra ama o vizinho
 
Moinho que moendo o milho faz o fubá e cria a família
Moinho que do trigo faz o pão e alimenta o povo faminto
Moinho que tritura a uva e faz o alimento sagrado
Moinho que dá o emprego e a paz pro universo unido
 
Moinhos de fubá de Maria e muitos “nãos” antes dos “sins”
Moinhos de fazendas onde as rendas nãos rendas, são roupas
Moinhos de povos pobres onde os nobres são miseráveis
Moinhos de reis holandeses tocados por ventos de todo universo
 
Velho moinho de milho e de energia e do progresso possível
Velho moinho feito por meu pai, meu avó e fazendeiros amigos
Velho moinho a moer as razões e os milhos de todas as paixões
Velho moinho feito com fé, batizado na pia e crismado no altar

 

Jose Machado Veríssimo
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