Décimas Ecléticas

 
Eu sou a seca danada,
Eu sou o sol inclemente,
Do Demo, sou o tridente,
Do boi brabo, sou marrada,
Eu sou a foice amolada,
Sou o princípio do fim,
Eu sou a Missa em Latim,
Que você reza, calado...
Eu sou sapato apertado
Em pé de cantador ruim!
 
Eu sou o mapa da mina
Sou o soldado de guerra
A velha cabra que berra
Eu cumpro com minha sina
Isto é o que me anima
Demorei só um pouquim
Fui capar um bacurim
Do escroto atolado
Eu sou sapato apertado
Em pé de cantador ruim!!!
 
Não entendo a insônia do tetéu
Na vigília das várzeas nordestinas
Seu barulho acorda as mininas
Ecoando até o transpor do véu
Faz de tudo pra imitar o xexéu
O seu sono é maneiro como o vento
Na vigília é soldado de talento
Avisando a toda passarada
Há estranhos passando na estrada
É uma curuja a bordo de um jumento.
 
Admiro o pequeno beija-flor
Que, ligeiro, bate asas pra voar
Vai beijando que nem um namorar
Delicado, fiel, com seu labor
Tem nas penas, as cores do amor
E nas asas, a força de um Golias
Canto a ti, meu pequeno, as alegrias
Pois me inspiras a força da natura
Se não hás, só me resta a amargura
Se me vens, doce o beijo, contagias.

Antonio Padre da Silva
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