Numa sala em qualquer lugar
Sem o relógio no pulso
Sem a roupa no corpo
Sem pele... sem coração.
 
Há uma tempestade lá fora
Há um turbilhão aqui dentro
De quadros difusos e tortos
Pontiagudos... Aguçados
Pela lima chamada tempo.
 
Olham pra mim...
As pessoas olham pra mim mas não me vêem...
Passam por mim mas não me passam...
Sentem por mim mas não me sentem...
 
Não há interruptor que acenda...
Não há luminária que brilhe...
Não há discos que cantem...
Só o silêncio, feroz, cruel, implacável...
 
Chove granizo... uma pedra caiu sobre mim... e ficou.
 
Acabaram-se os festins da meia-noite...
Foram-se os fogos de artifício...
Extingüiram a valsa...
Mataram os bailes...
Raptaram você...
Sobrei eu...
Aqui...
Só...
 
Numa sala em qualquer lugar.

Wesley de Andrade
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