A boca inversa
 
Durma calado, bom amigo
disponha das minhas escritas.
Enlargue minhas visões
das suas palavras que não foram ditas.
 
Benditos sejam os poetas
que se lembrarão de ti.
Eu mesmo lembrei com tanta força
que até esqueci de sorrir.
 
Num quero-quero te resguardo,
e no mais mais me envolvo
não sei se eu apenas escrevo,
ou se choro com pesado fardo.
 
O bramir de tais museus
ou as pessoas que nunca te lerão,
coração parado, a boca inversa
e o bem-maldito caixão.
 
Que é cama em que se serve
e cochila num limiar arregaçado.
 
Bons sonhos, querido amigo.
Sempre terei você ao meu lado.
 
Adeus.
 
 

Homenagem a um amigo poeta, morto em um assalto em 2001.